07 julho 2004

Há sempre algo de bom

E assim nasceu mais um dia...

Ela encontrava-se á janela, quieta...vendo o dia nascer...enquanto ele ainda dormia, tambem quieto...na quietude do sono dos justos...
Joana fumava um cigarro enquanto uma lágrima lhe escorria cara abaixo.

Chorava pela vida que não tinha e pela vida que gostava de ter...chorava pela fome, pela guerra, pelo mundo, pela sua mãe recém-falecida, pela chuva que não parava, chorava agora compulsivamente...acabando inevitavelmente por acordar o seu companheiro...que depressa se levantou e lhe beijou o ombro frio daquela manhã de Inverno.

Segurou-lhe as mãos, olhou-a nos olhos e com umas simples e pequenas palavras decidiram sair de casa o mais depressa possivel...

Saíram para a rua, chovia torrencialmente, meteram-se no carro e foram percorrendo a cidade sem destino, sem falarem...por sorte ou por acaso era fim-de-semana e não havia qualquer tipo de trânsito, a não ser uma ou outra pessoa que se levantou cedo para ir ao pão ou um ou outro ciclista mais zeloso do seu desporto...

Joana precisava de sair de casa, precisava de saír do seu mundo, daquele mundo que lhe fazia vir á memória todos os seus fantasmas e todos os seus problemas...

Ele compreendia-a e esforçava-se por não lhe dizer nada pois sabia que ela precisava de estar sozinha, mas com ele...

É estranho...mas era assim mesmo...e entendiam-se perfeitamente...

Andaram cerca de duas horas deambulando pela cidade, que aos poucos e poucos foi acordando...a chuva passou, decidiram ir tomar um bom pequeno-almoço á melhor pastelaria da cidade...só os dois...

Depois foram para casa, para junto dos seus filhos que ainda não tinham acordado e sentando-se nas suas camas a contemplá-los...pensaram como eram felizes por os terem ali consigo, saudaveis e felizes...por estarem bem...por serem seus...por os amarem mais que a tudo...fazendo-os esquecer todos os seus fantasmas e todos os seus problemas...a chuva, a morte, o mundo, a guerra, a fome......


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